23/12/2007 - JORNAL DA CIDADE - Opinião
A barbárie de Bauru
O choque elétrico é um estímulo rápido do sistema nervoso provocado pela passagem da corrente elétrica no corpo. As conseqüências podem ser desde um simples susto até a morte. Isso depende da intensidade e da duração da corrente, que é medida em Ampères. Físicos da Universidade de Brasília (UnB) informam que durante o choque o corpo humano funciona como um condutor de corrente e que pode variar dependendo do trajeto percorrido. A corrente elétrica é a movimentação de cargas elétricas que podem ser conduzidas através de um fio, uma barra metálica, um pouco de água, ou até mesmo o sangue ou a pele. Quando atingidos, os órgãos vitais, como o coração, podem sofrer lesões irreversíveis. A pele humana possui uma certa resistência à passagem da corrente, que é medida em Ohms, e os resultados vão depender muito da umidade. Quanto maior a umidade, menor a resistência do corpo. Conheça algumas conseqüências do choque: 1 miliampère (mA) é considerado normal; de 1 a 9 ocorrem as contrações musculares; 9 a 20 surgem contrações violentas, dores e perturbações; 20 a 100, morte aparente, a dor é insuportável, perturbações circulatórias graves com fibrilação (contração descoordenada do coração) e parada respiratória. Mais de 100, asfixia imediata e fibrilação do coração. Vários ampères levam a queimaduras graves (inclusive de órgãos internos) e morte imediata. Você pode levar um choque causado por fiações energizadas, eletrodomésticos, lâmpadas, chuveiros, cercas elétricas, baterias, turbinas, motores, eletricidade estática, painéis solares, reatores, geradores, cataventos e ainda por peixes-elétricos, raios e... torturadores. Mais que ampères, ohms e volts estes últimos agregam uma nova terminologia ao mundo da eletricidade, a covardia. Personagens nefastos que povoaram da Inquisição ao Holocausto, dos porões ditatoriais a Guantánamo, eles estão mais próximos do que podemos imaginar, reconhecer ou tolerar. O diferencial daqui é que parece não ser preciso dar-se ao luxo de mirabolantes justificativas para intencionais perseguições. Talvez pela certeza da impunidade, basta chegar e executar. Na ausência de bruxas, terroristas e legítimos comunistas, os neotorturadores tupiniquins podem contentar-se com crianças, por acaso pobres e por mera coincidência, negras. E se suspeitas de praticar um roubo, melhor ainda. Ouvir a dor, o desespero e sentir a morte de um filho durante eternos 71 minutos, no seu próprio lar, por nossos próprios servidores, fardados, armados e em bando, não é um sofrimento que uma mãe mereça suportar e uma sociedade permitir. Somos um país atrasado quando o Estado é incapaz de produzir esperanças para seus jovens pobres, proporcionar uma formação ética para seus soldados fortes e corrigir com justiça os desvios. O pior é quando aceitamos a barbárie de forma omissa e passiva. Aí, já não é mais o país que é ruim, somos nós.
Luís Victorelli, jornalista.
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23/12/2007 - JORNAL DA CIDADE - Cartas
Tortura nunca mais!
O Brasil junto com centenas de outros países assinou tratados de cidadania e de direitos humanos, dentre os quais os que proibem a tortura fisica e psicológica. E baseando-se na Convenção de Genebra, até na guerra entre nações a tortura é terminantemente repudiado. Não estamos em Guantánamo, mas aqui na cidade de Bauru, aonde um adolescente de 15 anos, negro e pobre, foi assassinado com requintes de brutalidade e tortura. E este horrendo acontecimento que lembra os tempos de chumbo da ditadura militar foi cometido por policiais militares, que foram presos pelo comando da PM em Bauru e encaminhados para o presídio militar. Diga-se de passagem uma postura corrétissima do Comando da PM local. No entanto, em se tratando de um caso com repercussão nacional e internacional e que envolve a tortura física e psicológica, e já tendo o acompanhamento do caso pela Comissões de Direitos Humanos da Câmara Federal e da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, pela Anistia Internacional e pela ONG Tortura Nunca Mais. O Ministério Público Estadual já instalou procedimento investigativo e por ser a tortura um crime repudiado no mundo inteiro e tratando-se de um crime federal, nada impede que o Ministério Público Federal passe a acompanhar as investigações em conjunto com a Policia Federal. E enquanto tudo isto acontece, a nossa Camara Municipal nem sequer se posicionou sobre o caso. No minimo lamentável, para não dizer patético. Se o jovem assassinado cometeu algum delito, teria que ser encaminhado para a delegacia e por ser menor para o conselho tutelar, que tomaria as devidas providências. À polícia, seja ela qual for, cabe agir seguindo a nossa Constituição e o nosso Código Penal. Fora disso é barbárie e estado de exceção e quem paga o preço dos abusos de autoridades são as parcelas mais desprotegidas da sociedade. Não estou afirmando que uma coisa tem a ver com a outra, mas a pior desgraça que ocorreu foi grande parte da sociedade brasileira ter gostado do filme “Tropa de Elite”. Tal aprovação fez alguns agentes da Lei despreparados se materializarem em genéricos de rambos. Só que a mesma sociedade que manda os policiais embrutecerem nas ocorrências é a mesma que fica perplexa e horrorizada quando a coisa ruim acontece. E alguns policiais ainda não aprenderam e nem perceberam isto. E se for para voltarmos ao tempo da Lei de Talião, que era o “dente por dente e olho por olho’’, usada pelo homo sapiens quando deixou a Africa há cem mil anos atrás, já escrevi aqui e volto a repetir: não precisariamos de Poder Judiciário, de Poder Legislativo, de Poder Executivo, de Ministério Público, de advogados e nem de policiais. Gostaria de sugestionar para o Comando da Polícia Militar de Bauru a troca de todos os policiais da Base Leste lá do Mary Dóta. Já é o segundo caso no mesmo bairro e isto é inadmissivel. Tortura Nunca Mais!
Pedro Valentim
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22/12/2007 - JORNAL DA CIDADE - Cartas
Bauru
De onde você é? Daquela cidade onde um garoto de 15 anos foi torturado e morto dentro de sua própria casa. Ah! Sei sim qual é! Como bauruense, embora ausente de minha terra natal, fico chocado, triste e envergonhado ao receber as últimas e estarrecedoras notícias vindas de nossa cidade. Infelizmente, ganhamos destaque no bojo de um caso revoltante e bárbaro, que choca a todos que dele tomam conhecimento no Brasil e, também, no Exterior.Minha esperança é que as autoridades e o povo bauruense saberão responder e dizer ao mundo que foi sim em Bauru que tamanha atrocidade ocorreu, mas que também foi onde a barbárie foi exemplarmente repudiada, combatida e punida para que nunca se repita. Uma terra onde a vida é valorizada sem limites. Bauru, saiba que após o “choque” todos aguardamos uma resposta cabal. Inclusive a história.
Vitor Ribeiro
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