Ato reúne 3 mães de jovens mortos em casos violentos
16/01/2008 - Jornal BOM DIA
Encontro ecumênico marca 1 mês da morte de Carlos Rodrigues Júnior
Um ato ecumênico ontem à tarde na praça Rui Barbosa, no Centro, reuniu aproximadamente 150 pessoas para marcar um mês da morte de Carlos Rodrigues Júnior (Juninho), 15 anos. Ele foi morto após uma sessão de tortura atribuída a seis policiais militares, presos em São Paulo.
O evento reuniu a mãe dele, Elenice Rodrigues, a duas outras mães de mortos em circunstâncias violentas: Edite Lourenço, de Jorge Lourenço (Jorginho), e Maria Aparecida Cipriano, mãe de Rinaldo Pires Júnior.Jorginho foi morto em abril passado também por policiais militares. Já Rinaldo foi alvejado no dia 19 pelo dono de uma propriedade em Duartina, num caso que abalou a população. Dezoito pessoas, parentes e amigos da família, vieram a Bauru para engrossar o movimento.“Eu me sinto péssima. A gente via acontecendo com os outros e jamais imaginaria que aconteceria com a gente”, diz Maria Aparecida. Avó do adolescente de 14 anos, Ermelinda Cipriano lembrou que o neto “tinha uma vida pela frente”. “Não consigo esquecer. O agressor está solto e ninguém sabe onde. Como é rico e tirou a vida de um pobre, está solto. Isso é muito revoltante.”Lágrimas acompanharam os familiares. Deise Rodrigues, irmã de Juninho, diz que a família ainda não se conformou. “Minha mãe relembra o que aconteceu, passou muito mal ontem”, diz. Ela acredita que o movimento organizado anima a família. “Quanto mais gente, melhor, para que as pessoas possam cada vez mais nos ajudar neste caso, que é muito difícil e demorado. Espero que esses policiais não saiam tão cedo [da prisão].”Para Edite, mãe de Jorginho, o culto é um pedido de paz. “E de Justiça mais rápida, porque só em julho vão ser ouvidas as testemunhas. Precisa ser mais rápido, uma punição mais rápida”, pede.
Encontro busca sensibilizar comunidade
De um lado uma esperança de Justiça mais ágil; de outro, um movimento para denunciar abusos e casos de violência, não só policial. A organização é do Grupo contra a Violência e Violação de Direitos Humanos, do qual fazem parte advogados, psicólogos, assistentes sociais, defensores públicos, conselheiros tutelares, professores e representantes de outras categorias.
A coordenadora da subsede do CRP (Conselho Regional de Psicologia), Sandra Elena Sposito, afirma que o ato ecumênico busca sensibilizar a comunidade. “É para não deixar esses casos chocantes serem esquecidos e renegados a algo como se fosse um acidente ou fatalidade. Há uma violência intencional em determinadas instâncias da sociedade. Não só da ação policial, mas violência contra os jovens, que está se tornando generalizada.”
Também participaram movimentos ligados à umbanda, como o Instituto Cultural Aruanda. O presidente-sacedorte, Rodrigo Queiroz, avalia que “toda forma de violência deve ser repudiada”. “A umbanda, como religião que prega o amor ao próximo e reconhece no semelhante parte de si, precisa convergir de forma a criar uma consciência de paz. Se é para reforçar a cultura de paz, a umbanda sempre estará presente”, diz. A Igreja Católica também participou, com uma mensagem de paz deixada pelo padre Agnaldo Pereira.
Liberdade provisória
O MP (Ministério Público) e a Justiça analisam um pedido de liberdade provisória feito pela defesa de quatro PMs acusados. Os seis foram indiciados por homicídio doloso, tortura e abuso de autoridade. O inquérito policial já seguiu para o Fórum, onde o MP avalia se oferece ou não a denúncia. A decisão deve sair até sexta-feira. A Justiça também analisa um pedido de prisão preventiva feito pela Polícia Civil.
Thárcio de Luccas
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